ensaio sobre palavras

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            Despir os olhos/ ver além do real                                 

 

[...Num orgasmo mecânico e desesperante acordei do meu sonho bélico que desmoronava o constructo “mundo real” pétala após pétala que sobre a campa repousava. Crescia em mim uma raiva incontrolável traçada pelo rasgar do universo e sem vida a minha pele transfigurada ambicionava ser uma incógnita astral e ver o real...] 


      Por vezes, este sonho surge e tento ler o que está por detrás, aquele nosso conhecido “avesso da metáfora” que lida de trás para a frente e, até no meio desta epifania toda, observa-se que de um lado temos a ficção e do outro a verdade. Na verdade, questiono que mais precisava eu senão do esfumar a ilusão da “coisa” e atingir o real objectivo? De certeza era mais feliz assim, ignorando a complexidade da “coisa”. 
       Porém, surgem diversos obstáculos e com calma contorno-os como se de um rio se trata-se: sigo a corrente e contra-corrente afogo o que desconheço mas ao fim encontro um abismo onde só a água é célebre e só esta atinge a profundidade do que é oculto ao olhar humano. Talvez porque a água corre e não pede licença, talvez porque é de simples composição (duas moléculas de oxigénio e um hidrogénio), talvez porque respira mais que os homens e vê-se através desta com mais nitidez, talvez porque em si transporte mais vida que a minha pele sem vida. Não sei. 
   E neste enigma prossigo todos os dias seja qual for a previsão meteorológica, seja qual for a roupa que irei escolher, seja qual for as vidas com que me irei cruzar e seja qual for o fado que irei chorar. Uma normalidade rotinada, pervertida e condicionada pelo “olá, tá td bem?” “Sim, sempre” sorriso. E de xadrez é feito este jogo: “finge ser o que não és para seres o que és” e assim andamos cobertos de “lata” em bastidores de teatros de mil interpretações. E se não é insulto, então não me digam que os unicórnios existem quando afinal são rinocerontes, contudo, não sou esquisita nem daquelas que sente a vida debaixo de sete colchões. 
     E daí que correndo o risco de, como dizia Eça de Queirós “ por meio do manto afamo da fantasia emerge-se a nudez forte da verdade” tornar-se uma incógnita astral seria fácil. Pois já alguém dizia que “conhecemos melhor as chávenas que seguramos do que a parte de nós que as segura”, portanto, se fácil fosse desmontar o construto “mundo real” aconselhava a todos-Homens- a despir do real para ver a realidade e, neste sentido, a pele sem vida talvez encontra-se o seu destino mesmo ele sendo surreal.




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